Porque está cada vez mais difícil de terminar “O Poder da Ação”
Inicialmente o nome que queria dar pra esse post seria “Não, jovem místico, o mundo não gira em sua volta”, pra ser algo chamativo, mas ele poderia demonstrar certa arrogância, que certamente não é a impressão que quero deixar.
Eu tenho o livro “O Poder da ação” fisicamente, porém optei por ouvir o audiobook nas minha ida pro trabalho de bike.
Logo na introdução, eu me senti em uma propaganda do YouTube ou naqueles lançamentos do Erico Rocha, onde sempre começa com uma história emocionante de superação pra depois tentar te vender algo. E sim, eu sei, isso é técnica de marketing, mas eu já comprei a droga do livro, então quer dizer que o produto é o tal do método CIS®?
Se tem uma coisa que odeio é estar pagando por algo, e ainda assim ser apresentado propagandas, eu realmente sinto como um insulto a minha inteligência.
Acredito que toda essa afirmação seria pra se diferenciar da má imagem adquirida pelos “coachs” hoje em dia. Só na capa eu encontrei 6 elementos de “gatilhos mentais”, porém nenhum citava “coach”.
São 7 longas páginas de depoimentos, sendo basicamente a primeira uma massagem no ego sobre os feitos dele (já vou adiantando que tem mais diluído no resto do livro). Quando terminei a introdução, a primeira coisa que me veio na cabeça foi a frase de Margaret Thatcher:
“Estar no poder é como ser uma dama. Se tiver que lembrar às pessoas que você é, você não é.”
Tenho que admitir que o livro trás conceitos valiosíssimos, e que posso dizer por experiência própria que mudanças positivas acontecem quando aplicados.
Tive uma sensação de “mais do mesmo” ao ler algumas dessas idéias, mas tenho maturidade o suficiente pra entender que isso é devido de eu “beber de outras fontes” antes de ler esse livro. Por outro lado, apesar de sinceramente eu não achar isso, as vezes dá ima impressão de ser um grande compilado de livros e resumos de livros que vi no YouTube.
O livro é bem lúdico, com histórias, estudo de caso, e uma coisa que eu gosto bastante, atividades práticas.
Eu não tenho dúvida que o Paulo Vieira é um cara extremamente inteligente, e acima de tudo, um cara de atitude, que faz jus ao nome do livro “O Poder da ação”, e que todas as suas conquistas estão pra provar o quanto ele é foda.
Mas o problema é quando ele tenta falar algo de fora do seu campo de conhecimento…
Vamos a um exemplo:
No capítulo IV, Foque, ele apresenta 3 modelos mentais:
- Modelo de depressão
- Modelo de ansiedade
- Modelo de sucesso
Sim, os nomes poderiam ser quaisquer outros, mas eu achei uma nomenclatura perigosa .
No modelo de depressão, ele explicar que a “pessoa depressiva vive do passado e tende a se cercar de negatividade”(sic). Já o modelo de ansiedade é a pessoa que tende a focar demasiadamente no futuro. Porém o modelo de sucesso seria o ideal, quando o foco é no presente.
A partir dessas definições, será que uma pessoa depressiva e ansiosa se resume apenas a sua forma de pensar? Será que é apenas culpa dela e não uma doença que a pessoa não escolheu ter? Será que o oposto de sucesso é ser depressivo ou ansioso? E pra finalizar, o que custa, depois de tocar nesses pontos, explicar que se esses pensamentos forem recorrentes, procurar um professional de saúde?
Na minha humilde opinião, eu acho no mínimo inconsequente falar dessa maneira, quando seu púbico alvo são pessoas que não estão em situações boas, e estão lendo o livro pra ver se melhora algo na vida.
E pra finalizar, eis que vem a parte que me questionou se eu estava perdendo meu precioso tempo lendo/ouvindo esse livro:
No capítulo V, Comunique-se, existem uma parte chamada “Comunicação Verbal”, que antes de ler, eu imaginava ser algo relacionado a persuasão, ou seja ciência. Mas, pra minha infelicidade, dali pra frente ele vai tentar provar “““por meios científicos””” (haja aspas) o poder das palavras.
Primeiro ele conta do doutor Masaru Emoto, que mostra através das emoções, a estrutura molecular da água é modificada, onde ao proferir palavras “positivas” os cristais se apresentavam “firmes e belos” (sim, você leu “belo”). O que é ser “belo”? Será que as moléculas entendem alemão, e sabem que apesar de “ich liebe dich” parecer um xingamento, é uma frase super fofa?
Eu poderia passar horas escrevendo o quanto isso foge do rigor de um experimento científico, mas o foco aqui é no livro.
Voltando, ainda não satisfeito de citar notícias falsas/sem embasamento como argumento, não tem ao mínimo uma fonte citada como referência. Quer dizer que basta dizer que é o cara é um doutor e da Universidade de Yokohama, é o suficiente pra te fazer acreditar?
Tocando no assunto de referências, o livro tem meras 2,5 páginas de referências, e acredito que não por acaso, em uma fonte maior que a do resto do livro. Para fins de comparações, o livro “O Poder do Hábito” são quase 100 páginas (1/4 do livro) de referências e notas.
Nesse mesmo capítulo, eu me deparo com o seguinte trecho:
Em 1983, o programa Os trapalhões exibiu um especial do quarteto. A história se passa em 2008, ou seja, 25 anos no futuro. No episódio, Zacarias e Mussum fazem o papel de seus próprios filhos; no enredo, os humoristas já teriam morrido e os filhos dos dois lhes prestam uma homenagem. Como se sabe, de fato o Mussum e o Zacarias morreram. Contudo, as coincidências não param por aí (…)
E quem não morre um dia?!
Depois de cada “argumento” completamente isolado, ele repetia empolgadamente “será que tudo isso foi mera coincidência?”, e ao mesmo tempo eu me perguntava após ele contar a história do jovem que encenou a morte, e acabou morto da mesma maneira: Quantos latrocínios acontecem no Brasil? O mundo tem 7 bilhões de pessoas, e todas as outras que tiveram falas/pensamentos ruins e estão vivos?
Isso é um dos melhores exemplos do viés de confirmação que posso dar.
Mais uma vez quero reforçar que não tenho nada contra o Paulo Vieira, só achei seus argumentos bastante frouxos e sem embasamento. Senti a mesma sensação no livro “O Milagre da Manhã”. A intensão disso tudo aqui não é dar uma de sabichão, mas sim questionar essas afirmações.
No fundo também vejo toda essa coisa de energia positiva e religião como uma “mentira branca”, que pode ser usadas pra tirar pessoas não doentes da merda, porém eu sou da cabeça aos pés contra vender essas mentiras, por mais inofensivas que forem.
Apesar de todo esse ceticismo, sinceramente, espero que eu esteja redondamente errado disso tudo (e não tem problema algum nisso), e acredito que chegando lá em cima (ou lá em baixo, nunca se sabe), esse tal Deus exista mesmo e não vai me castigar por não achar que ele existe, mas talvez me parabenizar pelas pessoas que ajudei e pelo conhecimento que compartilhei. Gosto bastante dessa frase:
Eu acredito no Deus que criou os homens, e não no Deus que os homens criaram.
Pra eu não esquecer:
Próximos: Milagre da manhã +A mágica da arrumação